sábado, 18 de junho de 2011

O trabalho de trastes e a sabedoria do meu avô

Preâmbulo: meu velho avô - figura das mais queridas e sábias - é criador de curió. Ele já teve vários curiós vencedores de competições. No fim do ano passado ele teve toda a paciência de mostrar dois curiós dele. Ele me explicou como é o canto considerado de bom gosto pelos criadores, explicou o ciclo do canto, a quantidade de ciclos e outras coisas muito interessantes. Era tanto detalhe que eu fiquei impressionado.

Tentando ser bem didático, meu avô mostrou um curió que tinha um canto que considerado perfeito e de muita finesse e também mostrou outro curió que tinha particularidades no canto consideradas imperfeições. Por incrível que pareça, pra mim foi até fácil entender o que era o canto impecável de um curió vencedor de competições. E realmente eu fui achando mais bonito quando eu pude perceber as minúcias. Difícil e demorado foi perceber as imperfeições no canto do segundo curió. Há uma espera entre um ciclo de canto e outro. E eu tive que ficar sentado e ouvir muuuitos cantos pra poder perceber que havia uma nota, uma mísera notinha que realmente era meio trêmula e sem definição. Usando termos modernos: parecia uma daquelas notas erradas do Guitar Hero.

Fim do preâmbulo.

Agora veja as 3 primeiras fotos abaixo. Essa guitarra teve seus trastes trocados - não por mim. Ela foi trazida aqui para mera revisão de rotina. Acontece que eu queria mostrar para o dono a diferença entre os dois curiós. As três fotos de baixo mostram o resultado da minha limpeza da escala, remoção da cola escorrida e do arredondamento e polimento dos trastes. A resolução exagerada das três últimas fotos é proposital.


O desavisado ouve os passarinhos cantando e acha que é tudo igual. Mas você pode prestar um pouco mais de atenção e perceber que existe uma diferença entre o que é apenas funcional e aquilo que é funcional e que foi feito realmente com esmero e atenção máxima a detalhes. 

Com o tempo você pode perceber e separar melhor as coisas. Eu sou só o luthier chato que convida as pessoas a perceber isso.







4 comentários:

"Jr." disse...

Bonita paráfrase. Acho que passei a gostar mais dos curiós, do que das guitarras, rs. Pena que eles não solfejam a pentatônica menor...

Acho que prefiro minha fender mesmo, rs.


Abraço!

Hilário Ferreira disse...

Eu acho que você devia denunciar quem tinha colocado os trastes na guitarra anteriormente. Parece que foi feito por uma criança e trabalho infantil é crime!

Gabriel Oliveira disse...

Post bonito :)

Alisson Sousa disse...

Isso é feio( o serviço). Por isso, tow tentando arranjar um tempo e levar pra Fortal uma das minhas guitarras para troca de trastes.